A prevenção continua sendo a pedra angular da cardiologia moderna. Reduzir o impacto avassalador das doenças cardiovasculares, principal causa de morte em todo o mundo, passa fundamentalmente por estratégias preventivas eficazes e cada vez mais personalizadas. Embora o controle dos fatores de risco clássicos – hipertensão, diabetes, dislipidemia, tabagismo, sedentarismo e obesidade – permaneça crucial, a ciência avança para uma compreensão mais individualizada do risco cardiovascular, impulsionada pela genômica e pela inteligência artificial (IA).
A era da medicina de precisão está chegando à prevenção cardiovascular. O objetivo é ir além das recomendações populacionais, identificando subgrupos de maior risco com mais acurácia e adaptando as intervenções preventivas ao perfil único de cada indivíduo. Tecnologias inovadoras e o entendimento mais profundo dos mecanismos moleculares e genéticos estão pavimentando o caminho para um futuro onde um coração saudável seja uma realidade para um número ainda maior de pessoas.
O domínio desses novos conhecimentos e ferramentas é essencial para o cardiologista que busca oferecer as estratégias preventivas mais avançadas e eficazes disponíveis.
Genômica cardiovascular: desvendando o risco individualizado
A genética desempenha um papel importante na suscetibilidade às doenças cardiovasculares. Além das formas monogênicas raras, como a hipercolesterolemia familiar (HF), que confere um risco muito elevado de DAC precoce, múltiplas variantes genéticas comuns podem, em conjunto, influenciar o risco individual.
Os Escores de Risco Poligênico (ERP) são uma inovação nesse campo. Eles combinam a informação de dezenas, centenas ou mesmo milhões de variantes genéticas para estimar o risco basal de um indivíduo para doenças como a DAC, independentemente dos fatores de risco tradicionais. (Em maio de 2025, a aplicação clínica dos ERPs está se tornando mais clara, auxiliando na estratificação de risco e na decisão sobre a intensidade das medidas preventivas, especialmente em indivíduos com risco intermediário pelos escores clássicos).
A farmacogenômica também avança, buscando identificar como o perfil genético de uma pessoa pode afetar sua resposta a medicamentos cardiovasculares, como estatinas, anti-hipertensivos ou antiagregantes plaquetários. Isso pode, no futuro, permitir uma escolha mais personalizada e segura dessas terapias.
Inteligência Artificial (IA) e Big Data: modelos preditivos mais precisos e intervenções personalizadas
A capacidade de analisar grandes volumes de dados de saúde (Big Data) – provenientes de registros eletrônicos, estudos epidemiológicos, dados de wearables e informações genômicas – com o auxílio da Inteligência Artificial está revolucionando a predição do risco cardiovascular. Algoritmos de IA podem identificar padrões complexos e interações entre múltiplos fatores de risco que os modelos tradicionais não capturam, resultando em escores de risco mais precisos e individualizados.
Além da predição, a IA pode auxiliar na personalização das intervenções preventivas, sugerindo metas terapêuticas específicas ou as mudanças de estilo de vida mais impactantes para cada indivíduo. Aplicativos e plataformas digitais, muitas vezes com componentes de IA, também estão sendo desenvolvidos para promover a adesão a hábitos saudáveis (dieta, exercício), o monitoramento da pressão arterial e da glicemia, e o engajamento do paciente em seu autocuidado.
Inovações na redução de fatores de risco e novas fronteiras preventivas
A busca por estratégias mais eficazes para controlar os fatores de risco cardiovascular continua. No campo da dislipidemia, além dos inibidores de PCSK9, o inclisiran (um pequeno RNA de interferência que reduz o LDL-c com poucas administrações anuais) representa uma inovação importante para pacientes de alto risco com dificuldade em atingir as metas de LDL-c. A pesquisa em novos alvos terapêuticos para aterosclerose, incluindo vias inflamatórias, também é promissora.
O uso criterioso de exames de imagem para refinar a estratificação de risco, como o escore de cálcio coronariano por tomografia computadorizada, pode ajudar a identificar indivíduos assintomáticos com aterosclerose subclínica que se beneficiariam de prevenção primária mais intensiva.
Outras áreas de pesquisa incluem o impacto do microbioma intestinal na saúde cardiovascular e o desenvolvimento de intervenções que modulem a microbiota para reduzir o risco. A polipílula (PolyPill), que combina em um único comprimido medicamentos para controle de diferentes fatores de risco (estatina, anti-hipertensivos, AAS), continua a ser estudada como uma estratégia para melhorar a adesão terapêutica em populações selecionadas, especialmente em prevenção secundária ou em contextos de baixa renda.
A expertise cardiológica na era da prevenção personalizada
A prevenção cardiovascular no século XXI é cada vez mais sofisticada e baseada em uma compreensão profunda dos fatores de risco individuais e das ferramentas diagnósticas e terapêuticas mais recentes. O cardiologista especialista tem o papel de integrar todas essas informações – desde o histórico familiar e os fatores de risco clássicos até os dados genômicos e os achados de exames de imagem avançados – para elaborar um plano preventivo verdadeiramente personalizado.
A capacidade de interpretar criticamente novos estudos, de adotar inovações tecnológicas de forma criteriosa e de comunicar efetivamente os riscos e benefícios das diferentes estratégias preventivas aos pacientes é fundamental para uma prática cardiológica de excelência.
A prevenção cardiovascular está se tornando cada vez mais precisa e personalizada com os avanços da genômica e da inteligência artificial. Prepare-se para liderar essa nova era e oferecer estratégias preventivas de vanguarda.
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Referências Bibliográficas
- Arnett, D. K., Blumenthal, R. S., Albert, M. A., et al. (2019). 2019 ACC/AHA Guideline on the Primary Prevention of Cardiovascular Disease.1 Circulation, 140(11), e596-e646. (Buscar por atualizações).
- Visseren, F. L. J., Mach, F., Smulders, Y. M., et al. (2021). 2021 ESC Guidelines on cardiovascular disease prevention in clinical practice.2 European Heart Journal, 42(34), 3227-3337.3
- Khera, A. V., Chaffin, M., Aragam, K. G., et al. (2018). Genome-wide polygenic scores for common diseases identify individuals with risk equivalent to monogenic mutations.4 Nature Genetics, 50(9), 1219-1224. (Artigo seminal sobre escores de risco poligênico).
- Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). (Diretriz de Prevenção Cardiovascular).
- Artigos de revisão e estudos sobre o uso de IA em prevenção cardiovascular, farmacogenômica em cardiologia, e novas terapias para dislipidemia em periódicos como Circulation, Journal of the American College of Cardiology (JACC), European Heart Journal, Nature Medicine.
- Relatórios da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a carga global de doenças cardiovasculares e estratégias de prevenção.
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